Sobrevivendo à Repressão nas Mídias Sociais

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Bloqueio no Instagram — e Como Continuar nos Acompanhando

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Na madrugada de sábado, 19 de dezembro, um dia antes de seus novos termos de serviço entrarem em vigor, o Instagram fechou a página associada ao coletivo CrimethInc. sem nenhuma explicação ou justificativa. A conta nunca havia sido suspensa antes, nem recebeu sequer um aviso. Muito mais de 40 mil pessoas seguiam a página. O problema não foi nenhuma violação dos termos de serviço — pelo contrário, esta é uma medida política para suprimir as vozes dissidentes, expandindo a decisão do Facebook de agosto de 2020 de banir uma série de páginas associadas a jornalistas e editoras anarquistas.

Isso ocorre ao mesmo tempo em que o Instagram está suprimindo as vozes de profissionais do sexo e de pessoas que lhes dão apoio, dentre outros grupos. Esses não são incidentes isolados, mas etapas de uma repressão sistemática destinada a excluir milhões de vozes do debate público, a fim de tornar as comunidades às quais essas plataformas atendem mais vulneráveis a outras formas de repressão.

Enquanto isso, o Facebook continua a oferecer uma plataforma para teorias da conspiração de extrema direita, milícias e organizações fascistas. Em um dos exemplos mais flagrantes disso, a mobilização da milícia em agosto passado em Kenosha, Wisconsin — na qual o paramilitar de extrema-direita Kyle Rittenhouse assassinou duas pessoas e atirou em uma terceira — foi organizada no Facebook algumas semanas depois que a empresa retirou as páginas do dezenas de jornalistas antifascistas que de outra forma teriam feito a cobertura dos fatos.

Como escrevemos em agosto:

Ao mesmo tempo, a decisão do Facebook de banir páginas ligadas ao anarquismo é um passo estratégico em um conflito muito maior que se desenrola. É análogo a um militar interrompendo as linhas de comunicação de uma vila antes de realizar um bombardeio. (…) Anarquistas são apenas um de muitos grupos na lista de alvos; muitos imigrantes, população negra e outras pessoas de cor, muçulmanas, pessoas trans e queer, dentre outras, estão experimentando formas muito piores de opressão. Mas este precedente, como todos os precedentes anteriores, apenas encorajará agências governamentais e grupos fascistas a realizarem mais ataques, e nem todos ocorrerão online.

Milhares de figuras públicas, incluindo Noam Chomsky, David Graeber, Cory Doctorow e Chelsea Manning se reuniram para publicar uma carta aberta protestando contra o banimento de jornalistas anarquistas do Facebook e rejeitando a falsa equivalência promovida pela empresa que iguala grupos de direita que organizam ataques violentos a grupos antifascistas que os denunciam. Apesar de controlar o maior monopólio da história da comunicação interpessoal, o Facebook tem poucos incentivos para prestar contas à opinião pública. É especialmente revelador que eles continuem com essa repressão à medida que entramos na era Biden, quando eles não precisam mais agradar ao governo Trump que está deixando o cargo.

Corporações de mídias sociais com fins lucrativos nunca tiveram os interesses do público no coração. Com exceção do Twitter, onde mantemos contatos com os programadores originais, evitamos as plataformas de mídia social corporativa nas primeiras duas décadas de nosso projeto editorial. Quatro anos atrás, reconhecendo que uma nova geração estava se politizando através das mĩdias sociais e não desejando ceder esse terreno totalmente para autoritários, CrimethInc. viu contas apareceram no Facebook, Instagram e em outros lugares. Hoje, estamos entrando rapidamente em um mundo em que prescindir do Facebook e do Instagram não será uma questão de boicote, mas sim a consequência de uma repressão generalizada.

No melhor dos casos, isso significa que nossos esforços para estabelecer outros meios de comunicação serão relevantes para muitos outros grupos e pessoas também. Já é hora de ter nossos próprios canais de comunicação resilientes, para que depender de plataformas corporativas não seja nosso calcanhar de Aquiles.

Sobrevivendo à Repressão

Veja como nos acompanhar apesar das proibições do Facebook e Instagram.

Facebook e Instagram

Embora não utilizemos mais essas plataformas, endossamos esta página do Facebook em português, essa em inglês e esta página do Instagram como fontes de atualizações semelhantes às que costumávamos oferecer. Se você ainda consegue manter contas no Facebook e Instagram e decidir mantê-las, pode seguir estas.

Telegram

Há um novo canal do Telegram para divulgar conteúdo dos projetos do CrimethInc. e fornecer um fórum para discussão.

Na virada do século, as células do coletivo CrimethInc. estabeleceram e fizeram a curadoria de alguns dos primeiros espaços online para discussão e coordenação horizontal, como os já extintos fóruns crimethinc.net e crimethinc.info. Como megacorporações emergentes do século XXI integraram redes de comunicação à Internet 2.0, projetando-as para promover o individualismo competitivo, focamos nossa atenção nas colaborações coletivas offline. Hoje, estamos entusiasmados em participar de um novo experimento em discussão online anônima, sem a pressão de selecionar uma marca pessoal que outras plataformas contemporâneas promovem.

Mastodon

Existe um CrimethInc. conta na plataforma descentralizada de código aberto chamada Mastodon na intância todon.eu, um servidor executado por e para anti-autoritárias. Camaradas recentemente iniciaram outra “instância” do Mastodon chamada Kolektiva Social especificamente para grupos, projetos e indivíduos anarquistas. As diferentes instâncias descentralizadas no Mastodon interagem umas com as outras, então não há problema em se inscrever no todon.eu e seguir projetos no Kolektiva Social.

O formato do Mastodon será familiar para os usuários do Twitter. Você pode “favoritar” ou “impulsionar” postagens (chamadas de “toots”), seguir contas e assim por diante.

Signalboost

Para receber notificações quando publicarmos novos artigos, inscreva-se no Signalboost. O Signalboost usa o aplicativo de mensagens criptografadas Signal para transmitir mensagens criptografadas aos assinantes, preservando seu anonimato. Para assinar o Canal CrimethInc. no Signalboost, tudo que você precisa fazer é baixar o Signal no seu telefone e enviar uma mensagem de texto que diz “HELLO” para 1-256-448-8772. Infelizmente, os canais Signalboost são limitados a 500 assinantes, até que o coletivo por trás deles possa se expandir — mas cruzaremos essa ponte quando chegarmos lá.

RSS

Você também pode ser à “moda antiga” e assinar nosso feed RSS, que enviará automaticamente nossos novos artigos assim que forem exibidos. Você só precisa de um cliente RSS, como o NetNewsWire on macOS / iOS.

WT.Social

As pessoas por trás da Wikipedia formaram outra alternativa às mídias sociais de propriedade de empresas. Nossa conta está em https://wt.social/u/crimethinc-ex-workers.

Mídia Impressa

Ainda acreditamos apaixonadamente na mídia impressa. Livros e zines permitem ao leitor sair do fluxo implacável de informações para digerir uma ideia ou narrativa; uma vez que um projeto impresso entra em circulação, nenhuma empresa ou governo pode suprimi-lo facilmente. Nosso objetivo é iniciar uma nova iniciativa fornecendo zines para aqueles que não podem imprimi-los por conta própria em nossa biblioteca online. Se você puder ajudar a nos fornecer materiais de impressão para essa finalidade, entre em contato conosco. Agradecemos sua ajuda!


As redes oferecidas pelo Facebook não são novas, o que é novo é que elasparecem externas a nós. Nós sempre tivemos as redes sociais, mas ninguém po-deria usá-las para vender anúncios — nem eram tão fáceis de mapear. Agoraelas reaparecem como algo que temos que consultar. As pessoas se correspon-diam com velhas amigas, ensinavam habilidades e ouviam sobre eventos públicosmuito antes do e-mail, do Google e do Twitter. Claro, essas tecnologias são ex-tremamente úteis em um mundo onde poucas pessoas estão perto de seus vizi-nhos ou passam mais do que alguns anos em um local específico. As formasassumidas pela tecnologia e pela vida cotidiana influenciam umas às outras, fa-zendo com que seja cada vez mais impensável dissociá-las.

…Isto não é uma crítica da tecnologia em si. A questão é que ela não é neutra: a tecnologia é sempre moldada pelas estruturas da sociedade na qual ela é desenvolvida e aplicada. A maioria das tecnologias que nos são familiares foi moldada pelos imperativos do lucro e do governo, mas uma sociedade baseada em outros valores certamente produziria outras tecnologias. Ao passo que a tecnologia digital torna-se cada vez mais emaranhada no tecido da nossa sociedade, a questão importante não é se devemos ou não usá-la, mas como podemos minar as estruturas que a produziram.